Transplantes de medula óssea, tecidos e pele
Transplantes de medula óssea
O transplante de células-tronco hematopoéticas, comumente chamado de transplante de medula óssea, consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células-tronco hematopoéticas normais obtidas da medula óssea, do sangue periférico ou de sangue de cordão umbilical e placentário, com o objetivo de normalizar a formação e desenvolvimento das células sanguíneas.
O transplante de células-troncos hematopoéticas é amplamente utilizado no tratamento de diversas doenças que afetam o sistema imune e as células do sangue como, por exemplo, alguns tipos de câncer hematológico, tais como as leucemias e os linfomas.
Atualmente, existem mais de 100 centros autorizados pelo Ministério da Saúde a realizar as diferentes modalidades de transplante de medula óssea:transplante autólogo (aquele no qual as células doadas provêm do próprio indivíduo que será transplantado);transplante alogênico aparentado (aquele no qual as células doadas provêm de outro indivíduo aparentado e compatível – irmão, pai ou mãe); etransplante alogênico não aparentado (aquele no qual as células-troncos hematopoéticas provêm de um doador NÃO aparentado e compatível). |
Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea – REDOME
Sob uma gestão voltada para o crescimento contínuo, qualitativo e sustentável, o número de doadores voluntários cadastrados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Hoje, com 28 anos de criação do REDOME e com apoio da política do Governo Federal de crescimento com enfoque qualitativo, o Brasil detém o terceiro maior registro do mundo, com mais de 5 milhões de cadastros.
Esses números permitem êxito em disponibilizar cerca de 70% dos doadores compatíveis aos pacientes brasileiros que necessitam e, caso seja necessário, com acesso a busca na rede que congrega registros de diversos outros países (busca internacional), totalizando um universo de busca de mais de 44 milhões de doadores, possibilitando também a doação para receptores internacionais.
É importante ressaltar ainda que, na busca pelo doador compatível, os pacientes não ficam limitados ao cadastro do seu estado, a busca é realizada no REDOME de uma forma global, que congrega os doadores de todo território nacional, bem como os bancos internacionais. O Brasil está conectado com a Worldwide Network For Blood & Marrow Transplantation (WBMT), que permite a busca na rede mundial de doadores cadastrados.
Doação e transplantes de tecidos
Diferentes tipos de tecidos podem ser doados e transplantados, como córnea, pele, osso, cartilagem, valvas cardíacas entre outros. No entanto, diferentemente do que acontece com os órgãos, que vão diretamente de um doador para um receptor, os tecidos precisam ser encaminhados e processados em um banco de tecidos, podendo ser armazenados por um período maior de tempo até sua utilização.
Os bancos de tecidos são estruturas especializadas no processamento e armazenamento de tecidos doados, fornecendo tecidos de alta qualidade técnica e seguros para transplante/enxerto.
CÓRNEA
A córnea é a parte transparente que se localiza na parte anterior do globo ocular e, juntamente com a esclera, compõem a parte fibrosa e protetora do olho. A boa visão é consequência da transparência desta estrutura. Alterações no formato e na transparência da córnea podem comprometer seriamente a visão.
Funções da córnea
A córnea desempenha papel fundamental na formação da visão e proteção dos olhos. Transparente, funciona como uma lente sobre a íris, parte colorida do olho, focando a luz da pupila na direção da retina. As lágrimas (secreção lacrimal) mantêm a córnea úmida e saudável. Para o bom funcionamento da córnea é necessário que a mesma tenha transparência satisfatória e curvatura adequada. Se há perda de sua integridade, ela se torna embaçada, desfocada e a luz passa a não alcançar a retina, prejudicando sensivelmente a visão e provocando diversos transtornos que irão prejudicar o paciente no desenvolvimento das suas atividades diárias, podendo até mesmo ocasionar a perda completa da visão.
Como identificar problemas na córnea?
É importante procurar o oftalmologista desde os primeiros meses de vida para avaliação da visão. Tanto na infância quanto na adolescência, os pais devem ficar atentos quanto a possíveis queixas de cansaço visual, sensação de embaçamento e ofuscamento da imagem ou até mesmo visão dupla, mau rendimento dos filhos na escola e sempre que estiver sentindo desconforto intenso nos olhos. O diagnóstico precoce de qualquer problema é muito importante para o sucesso do tratamento, seja pela interrupção ou pelo atraso na progressão da doença.
Principais doenças da córnea
A córnea é acometida por diferentes patologias, que podem ser genéticas, hereditárias, defeitos de nascimento, ferimentos e infecções.
Algumas patologias estão associadas à curvatura da córnea, como o ceratocone, que é a principal causa de transplantes de córnea no Brasil. Outras doenças que comprometem a saúde da córnea são as úlceras, degenerações e distrofias.
Como cuidar bem das córneas?
Os cuidados com os olhos são sempre muito importantes em qualquer situação, assim como o diagnóstico precoce de algum problema para a realização de um tratamento bem-sucedido. No caso do ceratocone, algumas atitudes na rotina podem ajudar a prevenir e até mesmo evitar o desenvolvimento da doença. Pessoas com hábito de coçar os olhos possuem mais chances de desenvolver a doença, portanto esse hábito deve ser evitado. Proteger os olhos com óculos escuros, pois a luz, seja do sol ou outros tipos de radiação, causa sensibilidade, proporcionando o desenvolvimento da doença. O tratamento para o ceratocone inclui o uso de óculos, lentes de contato e cirurgias e, por fim, o transplante.
A úlcera de córnea pode ser causada por infecção por bactérias, protozoários, fungos ou vírus, ou pela ação de uma substância química. Pode, ainda, ser causada por pequenos traumas e pela existência de corpo estranho no olho. As lentes de contato também exigem atenção porque, se não forem bem higienizadas, podem irritar ou contaminar os olhos. Para prevenir complicações, deve-se lavar bem as mãos antes da manipulação, evitar o uso de lentes de contato enquanto dorme e o uso excessivamente prolongado. Manutenção inadequada e descuidos com a desinfecção podem contribuir para o surgimento do quadro patológico, mesmo nas lentes novas. Além disso, as infecções nos olhos devem ser tratadas prontamente.
Para evitar acidentes e queimaduras nas córneas, os olhos devem ser bem protegidos ao utilizar substâncias ácidas e alcalinas, também presentes em produtos de limpeza doméstica. Trabalhadores que utilizem produtos químicos devem utilizar equipamentos de proteção individual adequados.
Exames que identificam problemas nas córneas
Além da importância de verificar a necessidade de correção de problemas oculares, é fundamental realizar com regularidade exames oftalmológicos completos, que podem também identificar doenças oculares e sistêmicas, como a diabetes e a hipertensão arterial. Estes exames medem a acuidade visual, com e sem correção, a refração, a pressão intraocular, a biomicroscopia e o fundo de olho. Topografia corneana e paquimetria ultrassônica são procedimentos realizados para auxiliar no diagnóstico de possíveis doenças, possibilitando que o paciente passe em seguida para a fase de tratamento.
Bancos de Tecidos Oculares (BTOC)
Os Bancos de Tecidos Oculares Humanos realizam a busca de doadores, a retirada e o processamento de córnea e esclera. Os tecidos são processados em cabine de segurança biológica classe II tipo A, de modo a garantir a segurança para os receptores e para os profissionais de saúde do banco de tecidos.
Os BTOC que atualmente fazem parte da rede de transplantes, podem ser consultados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), habilitação 24.13.
Tecidos musculoesqueléticos
O espectro de uso dos homoenxertos ósseos (enxerto colhido de indivíduo da mesma espécie, mas geneticamente diferente) é bastante amplo, podendo ser utilizados em cirurgias de coluna, ressecção de tumores, trauma com extensa perda óssea, revisão de artroplastia de quadril e joelho, pseudoartrose de ossos longos; em pacientes que, após acidentes, sofreram perdas na estrutura óssea; enxertos ligamentares em cirurgia de joelho e em todo procedimento ortopédico que necessite grande quantidade de enxerto ósseo.
Na ortopedia pediátrica, o uso de tecidos de banco é particularmente interessante, pois a opção de enxerto autólogo é reduzida, principalmente em idades baixas. Operações em que frequentemente são utilizados tecidos ósseos são correções de escoliose, artrodeses do pé, pseudartroses congênitas, entre outras.
A cartilagem pode ser utilizada para reconstruções de pavilhão auricular, preenchimento de assoalho de órbita e reconstrução nasal. Os tendões podem ser utilizados em reconstruções complexas com transferências tendinosas; a fáscia muscular (tecido conjuntivo que envolve o músculo) para reforço de assoalho da órbita e tratamento de paralisia facial; a esclera para revestimento de próteses oculares.
De uma maneira geral, o uso de tecidos provenientes de bancos de tecidos musculoesqueléticos em ortopedia aumentou significativamente nos últimos anos por várias razões: impossibilidade de obtenção de grandes quantidades de ossos autólogos (do próprio paciente); morbidade do local de retirada do enxerto; aumento no número de revisões de artroplastias de quadril e joelho; e desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas que dependem de osso homólogo.
Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos (BTME)
Os BTME realizam a busca de doadores, a retirada e o processamento de tecidos. No caso de ossos, podem ser captados tecidos de doadores vivos e falecidos. Para doadores vivos podem ser captadas cabeças de fêmur provenientes de pacientes que foram submetidos à artroplastia de quadril. Dos doadores falecidos podem ser captados praticamente todos os ossos do corpo, inclusive segmentos de ossos.
Os tecidos são processados em sala limpa (classificada) de modo a garantir a segurança para os receptores e para os profissionais de saúde do banco de tecidos.
Os BTME que atualmente fazem parte da rede de transplantes, podem ser consultados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), habilitação 24.15.
Doação e transplantes de pele
A pele tem aplicação no tratamento de queimaduras ou de feridas crônicas, como as feridas na perna decorrentes do diabetes ou de úlcera venosa. A pele processada vai funcionar como um curativo biológico para pacientes que sofreram graves queimaduras. No início do tratamento do queimado, são realizados desbridamentos (retirada da pele queimada). A pele transplantada será utilizada em substituição aos tecidos carbonizados e mortos que foram retirados. Sofrerá, então, um processo de integração, permitindo que o paciente melhore as suas condições clínicas. Ainda são muito poucos os Centros de Queimados no Brasil. Mesmo nos grandes centros urbanos, os leitos destinados aos pacientes queimados e os profissionais especializados nesta área ainda estão bem abaixo do necessário.
Bancos de Peles (BP)
Os Bancos de Pele realizam a busca de doadores, a retirada e o processamento. A pele pode ser processada em cabine de segurança biológica classe II tipo A, ou em sala limpa (classificada) de modo a garantir a segurança para os receptores e para os profissionais de saúde do banco de tecidos.
Os BP que atualmente fazem parte da rede de transplantes, podem ser consultados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), habilitação 24.19.
Tecidos Cardiovasculares
As valvas cardíacas (ou válvulas cardíacas) são estruturas que pertencem ao coração e funcionam como janelas de saída de cada uma das quatro câmaras (átrios e ventrículos) que dividem o órgão. Elas dirigem o fluxo de sangue em um único sentido, não permitindo que esse retorne à câmara anterior. A abertura e o fechamento das válvulas produzem o som dos batimentos cardíacos. Quando a válvula sofre alguma lesão ocorre uma valvulopatia (enfermidade relativa às valvas), que evolui para uma cardiopatia (enfermidade relativa ao coração) necessita ser reparada ou transplantada por outra válvula, seja essa de origem natural (biológica) ou de origem artificial (próteses com materiais sintéticos ou metálicos).
Valvas cardíacas humanas são utilizadas como substitutos valvares desde 1962 e apresentam algumas vantagens em relação às próteses convencionais, como o desempenho hemodinâmico fisiológico com fluxo sanguíneo central e laminar, incidência quase nula de tromboembolismo (dispensa o uso de anticoagulantes) e maior resistência a infecções. Essas características resultam em melhor qualidade de vida no pós-operatório e, em algumas séries, maior sobrevida tardia. O uso clínico de homoenxertos de valvas cardíacas é amplamente utilizado como técnica cirúrgica para várias doenças cardiovasculares. Os homoenxertos obtidos da valva aórtica são frequentemente usados em doenças como destruição valvar, endocardite e estenose congênita do ventrículo esquerdo; quando obtidos da valva pulmonar são indicados para a correção da regurgitação ventricular direita, durante a cirurgia de “Ross” e homoenxertos da valva mitral (menos frequente).
Banco de Tecidos Cardiovasculares (BTCV)
Os BCTV realizam a busca de doadores, a retirada e o processamento de tecidos cardiovasculares que podem ser provenientes de doador falecido ou doador vivo (em caso de paciente receptor de coração). O coração doado para obtenção das valvas e os demais tecidos cardiovasculares podem ser processados em cabine de segurança biológica classe II tipo A, ou em sala limpa (classificada) de modo a garantir a segurança para os receptores e para os profissionais de saúde do banco de tecidos.
Os BTCV que atualmente fazem parte da rede de transplantes, podem ser consultados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), habilitação 24.14.
Fonte: Gov.br