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Professor de surfe negro acusado injustamente por furto de bicicleta diz que seu caso deveria ser enquadrado como racismo

Professor de surfe negro acusado injustamente por furto de bicicleta diz que seu caso deveria ser enquadrado como racismo

Matheus Ribeiro registrou boletim de ocorrência contra casal que o acusou pelo crime. A polícia prendeu o suspeito Igor Pinheiro, de 22 anos, morador de Botafogo. O rapaz branco tem 28 passagens pela polícia por diversos crimes.

Por G1


Surfista acusado injustamente de furto no Leblon diz que seu caso deveria ser tipificado como racismo.

Acusado injustamente de ter furtado uma bicicleta no Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o professor de surfe Matheus Ribeiro, disse nesta quinta-feira (17) que gostaria que a lei brasileira considerasse seu caso como crime de racismo.

No último sábado (12), o jovem negro estava parado em sua bicicleta elétrica, na porta do Shopping Leblon, quando foi abordado pelo casal Mariana Spinelli e Tomás Oliveira. A dupla teria acusado Matheus pelo furto do veículo.

A Polícia Civil prendeu, na madrugada desta quinta, Igor Martins Pinheiro, de 22 anos. Ele, que é branco, é apontado como autor do furto da bicicleta.

“O meu desejo era que a gente pudesse tipificar esses casos como racismo. O que acontece é que como não foi citado nada contra uma raça, não foi citado nenhum pejorativo como preto, macaco, alguma coisa assim, se referindo a uma pessoa só, no caso a mim, a gente não consegue por isso como crime de racismo. Então é uma coisa que tem que ser mudada lá em cima”, questionou Matheus.

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A delegada Natacha Oliveira, titular da 14ª DP (Leblon), onde o crime foi registrado, explicou porque a acusação contra Matheus não pode ser enquadrada como injúria racial e sim pelo crime de calúnia, uma infração de menor potencial ofensivo, por terem feito uma acusação infundada.

“Em nenhum momento, tanto diante da narrativa do Matheus, como diante da narrativa dos investigados, veio aos autos qualquer menção por parte destes no sentido de terem realizado alguma ofensa expressa de caráter racial. Razão pela qual, com base também na análise dos elementos objetivos do fato, da análise do caso concreto, não houve instauração de procedimento para apurar o crime de injúria racial, e sim o crime de calúnia”, explicou a delegada Natacha Oliveira.

Contudo, Matheus afirmou que em sua opinião a abordagem dos jovens não ocorreria da mesma maneira se ele não fosse negro.

“A gente sabe que se eu fosse um jovem branco eu não seria parado daquela forma. Então eu acho que o que tem que mudar é o jeito da gente olhar esses casos, esses fatos”, comentou.

Suspeito preso

Igor, rapaz branco, com 28 passagens pela polícia e morador de Botafogo, na Zona Sul da cidade, foi preso após ter sido reconhecido por um segurança do Shopping Leblon, que prestou depoimento na delegacia.

Também conhecido como “Lorão”, Igor já foi preso por outros furtos, como em 2018. Com ele, foi apreendida a bermuda que ele utilizava na hora do crime. Ele já foi preso outras sete vezes.

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Abordagem ao jovem negro

Matheus contou que estava esperando pela namorada na frente do Shopping Leblon, na Avenida Afrânio de Melo Franco. De repente, um casal de jovens se aproximou dele e a menina perguntou:

“Você pegou essa bike, não foi? Essa bike é minha”.

Ele negou e disse que mostrou fotos antigas dele com a mesma bicicleta. O professor de surfe postou um vídeo nas redes sociais, que teria sido feito depois de uma primeira discussão com o casal.

O vídeo mostra Matheus e o namorado da jovem próximos um do outro, com este último segurando o cadeado da bicicleta da namorada.

“É que acabou de roubar a bicicleta dela, é igualzinha, desculpa”, disse o rapaz, aparentemente tentando justificar a abordagem.

‘Está enraizado na nossa sociedade’

Em entrevista ao RJ2, Matheus disse que situações de racismo não são problemas isolados e estão “enraizadas na sociedade”.

‘É um problema que está enraizado na nossa sociedade’, diz surfista negro acusado de furto

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“Isso não é problema pessoal de mim pra eles, problemas deles pra mim, é um problema que está enraizado na nossa sociedade”, disse, referindo-se ao casal envolvido no caso.

“Não quero dar ênfase só pro meu caso, quero dar ênfase pra esses casos, para que as pessoas quando se veem numa situação de desespero não pensarem que foi o preto que roubou e toda vez que acontecer isso com um negro ele se sentir forte o suficiente para denunciar para botar a cara, falar que isso não é certo e que a gente não vai aceitar isso”.